O Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a Intercom, em Natal, Rio Grande do Norte, reuniu a elite dos estudos de comunicação para discutir o futuro de nossa mídia num mundo de contraponto entre exaustão ambiental e degradação humana. “Mídia, Ecologia e Sociedade” foi o tema geral do encontro realizado na capital potiguar entre 2 e 6 de setembro.

Um dos principais conferencistas da INTERCOM em 2008 é Dov Shinar, israelense reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho de aproximação entre jornalismo e paz no Oriente Médio.

Shinar participa da “guinada icônica” que hoje define a fronteira da contemporaneidade, o ícone é justamente esse vértice que articula mídia, ecologia e sociedade, é sinal que orienta onde é possível despejar o nosso lixo. A predominância das imagens num mundo de disputas encarniçadas por energia, alimentos e território torna os meios de comunicação uma arena privilegiada na luta por renda, identidade e conhecimento.

A guerra de imagens é quase tão importante quanto as imagens da guerra na compreensão dos mais intensos conflitos humanos na pós-modernidade. Desde o holocausto o cinema, a fotografia e o audiovisual servem como supra-territórios onde se constrõem imagens de nação, reputação e controle.

A importância da presença de Dov Shinar no principal encontro da elite que pesquisa, estuda, ensina e atua nos meios de comunicação no país está no alerta para a relevância das garantias democráticas como antídoto para a iconofilia contemporânea.

O pressuposto do professor israelense Dov Shinar é que uma estrutura democrática de mídia – incluindo-se aí as mais antigas e as mais modernas tecnologias de comunicação – deve procurar atingir um equilíbrio viável entre interesses sociais particulares e públicos, reconhecendo-se a legitimidade de considerações econômicas e de controle da mídia, assim como a necessidade de atividades que não assegurem lucro imediato; a necessidade de atividades políticas, de ações governamentais, de grupos de oposição, ONGs e instituições da sociedade civil concernentes à mídia, legalmente livres; e, também, as necessidades globais, pelo público, de informação, contextualização e transparência, desvinculados, tanto quanto possível, de interesses particulares.

Basta olhar em volta, ouvir as escutas telefônicas, assistir a alguns minutos de propaganda eleitoral (a do Rio Grande do Norte tem um lugar de destaque garantido no festival de aberrações que logo estará disponível em clipes nos YouTubes da vida). Os critérios relativamente simples, transparentes e objetivos de existência de uma mídia democrática nunca estiveram tão longe da realidade brasileira e mundial num setor que é, depois da invenção das TICs (tecnologias de informação e comunicação), uma condição “sine qua non” para a geração de renda, identidade e conhecimento.

O “produto icônico brasileiro” está muitíssimo abaixo do mínimo, como atestam os resultados de nossos testes no campo educacional. As urnas apenas refletirão esse escravismo mental renitente.

Link para o Congresso da Intercom:
http://www.cchla.ufrn.br/intercom2008/

Intecom 2008: Abertura Solene, Natal, RN

Intecom 2008: Abertura Solene, Natal, RN

Visita ao telecentro da Rede Pipa Sabe

A ida a Natal propiciou uma oportunidade para visitar o telecentro da Rede Pipa Sabe, inaugurado em dezembro de 2003 pela Cidade do Conhecimento e financiado sucessivamente pela Caixa Econômica Federal, Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) da Casa Civil da Presidência da República, FINEP (parcialmente) e, mais recentemente, beneficiário de um apoio do Banco do Nordeste do Brasil que viabilizou a consolidação do projeto da TV Pipa. Entre 2003 e 2006, o grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento liderou a instalação desse projeto pioneiro, com apoio do programa GESAC (ainda presente) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, do Ministério da Educação e do Ministério das Relações Exteriores.

Palco de intensa experimentação em inclusão digital, o telecentro foi o berço onde se incubou a ONG Educapipa, que assumiu a gestão do projeto depois da interrupção do Convênio com a FINEP, no início de 2007. Com apoio de moradores e da administração municipal, o telecentro está localizado entre a Escola Municipal Vicenzia Castelo e o Posto de Saúde, bem na entrada do distrito de Tibau do Sul.

Cinco anos após criação pela USP, pioneiro em TV comunitária

Cinco anos após criação pela USP, pioneiro em TV comunitária

O período de incubação de projetos e interação entre o grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento e a comunidade mobilizada pela ONG Educapipa teve altos e baixos, crises e sucessos como o pioneirismo na produção de conteúdo para telefones celulares, a participação em transmissões prioneiras de webTV pelo programa GESAC e a realização de dezenas de oficinas de valorização do saber local.

“Voltar depois de dois anos e constatar que a comunidade efetivamente se apropriou do projeto é uma satisfação extraordinária, uma confirmação de nossa defesa de uma abordagem emancipatória, pois desde o início defendemos uma cooperação entre universidade e comunidade que não podia virar tutela, nem “imperialismo” sulista, um temor onipresente no Nordeste brasileiro”, comentou Gilson Schwartz, idealizador do projeto e líder do grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento.

Mais que um telecentro, o espaço abriga biblioteca, cinco máquinas conectadas à rede, uma base de produção audiovisual local, espaço para reuniões e uma secretaria administrativa. Antes de tornar-se um telecentro, o espaço era ocupado como dormitório pela polícia local. “A mudança no uso do espaço é um sinal importante de que é possível promover mudanças locais de amplo alcance quando a comunidade se mobiliza em torno de tecnologia, educação e organização social. Para os participantes que agora entram em contato com as metodologias e tecnologias da Cidade do Conhecimento, conhecer a história do projeto da Rede Pipa Sabe é uma necessidade e uma alegria”, completa o líder do projeto e coordenador do novo programa Gestão de Mídias Audiovisuais para Desenvolvimento Local (GeMA), que vai levar parte dos resultados experimentados em Pipa a outras localidades e projetos.

Telecentro Rede Pipa Sabe - A Primeira Placa a Gente Nunca Esquece...

Telecentro Rede Pipa Sabe - A Primeira Placa a Gente Nunca Esquece...

Artistas locais, como Walfran, desde o início participaram da mobilização e em projetos criativos. Tito Rosenberg, que chegou depois, assumiu a liderança e tem participado na consolidação da TV Pipa, idealizada ainda em 2004 quando a localidade hospedou o segundo encontro do ciclo “Saber Local”, com patrocínio do MEC e do Ministério das Relações Exteriores. Saiba mais sobre a TV Pipa neste link:

http://tvpipa.blogspot.com/

A biblioteca, emoldurada pelos painéis criados em oficinas de Walfran na fundação do telecentro Pipa Sabe

A biblioteca, emoldurada pelos painéis criados em oficinas de Walfran na fundação do telecentro Pipa Sabe

Josiene, que participa do projeto desde as primeiras reuniões de planejamento, em maio de 2003, continua atuando e gerencia o cotidiano do telecentro mantido pela ONG Educapipa. Ela é uma das principais entusiastas da TV Pipa, participa como repórter e criadora na equipe e chegou ao projeto pelas mãos do artista pernambucano Eddy Polo, atualmente residente em Recife.

Josiene, líder comunitária desde a primeira hora, ao computador

Josiene, líder comunitária desde a primeira hora, confere as notícias ao computador