Por Thais Barros *

A Internet ainda é uma caixa preta cuja evolução coloca em primeiro plano questões de ordem política e conceitual. Essa é uma das conclusões do debate sobre “Desafios para o crescimento da Internet no Brasil” promovido pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br).

Coordenado por Alexandre Barbosa, o encontro realizado no dia 30 de agosto contou com a participação de Demi Getschko (NIC.br), Carlos  Afonso (conselheiro – CGI.br), Maria Inês Bastos (Unesco), Rogério Santanna dos Santos e Hartmut Richard Glaser (Secretaria Executiva do CGI.br).

Foram apresentadas as pesquisas TIC Domicílios, TIC Empresas e TIC Educação, realizadas pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação – CETIC.br. Pesquisadores da Cidade do Conhecimento participam da etapa qualitativa da pesquisa TIC Educação a partir da observação de quatro escolas públicas no estado de São Paulo.

A discussão concentrou-se em questões de governança da Internet, políticas públicas, qualidade dos serviços, custos e infraestrutura, com ênfase na educação e na formação de docentes, preocupação que ganhou ares de ironia na provocação de Demi  Getschko: um professor que teme ou mesmo imagina que pode ser substituído por um computador “merece mesmo ser substituído”.

No centro da discussão estão os desafios de educar na cultura digital e a busca do lugar que cabe e pode ser ocupado pelo professor. Podemos preparar o professor para ir além do papel tradicional de “transmissor” de informações prontas em nome de uma perspectiva alinhada às atitudes de um “mentor”, ou seja, alguém que inspira o estudante ou aprendiz na construção sem fim do conhecimento?

Carlos Afonso resgatou o histórico da Internet e apontou a importância da digitalização, que hoje proporciona usos inimagináveis, incontáveis possibilidades e oportunidades, em um permanente desafio à criatividade e de novas proposições. Algo que não pertence às operadoras e sim, à sociedade. Alertou ainda sobre a disponibilização de IPs e a transição do IP4 para IP6, algo que identificou como “caixas pretas”, posto que o que se conhece é a visão oficial do processo.

Maria Inês Bastos destacou ver na realização destas pesquisas um círculo virtuoso, na medida em que promove avanços nas maneiras de se apropriar da Internet, proporcionando aprendizagem e desenvolvimento. Com a ressalva da necessidade de permanentes investimentos na universalização e no acesso, sendo que um uso que proporcione melhorias na Educação depende da velocidade, qualidade e eficiência da rede.  A questão central, contudo, é a capacitação de docentes e gestores, sendo preciso saber em qual direção capacitar. O investimento na formação de base de professores ainda na graduação seria, na visão da pesquisadora, um caminho para reduzir custos e incrementar o processo. Por fim, ressalta que os gestores de escolas têm que investir na direção de transformar as escolas em “unidades de conhecimento”.

Rogério Santanna defendeu a manutenção do modelo de governança da Internet adotado no Brasil, bem como insistiu na necessidade de ampliar a participação do país nas discussões e decisões globais. Salientou que o cenário de crescimento do consumo no país torna urgente aumentar a qualidade dos serviços, reduzir  o preço e combater a desigualdade no acesso e na infraestrutura. Vê na Internet muitas possibilidades de negócios e surpreende-se com o fato dos brasileiros estarem entre os maiores usuários de redes sociais e não haver nenhuma delas nascida aqui.

Hartmut Richard Glaser defende o fortalecimento de governança que seja de fato internacional, com a ampliação da participação do Brasil; olhar cada vez mais nossos problemas e desafios e simultaneamente influenciar mais intensamente os processos globais.

Muito a pensar, mais ainda a fazer. O futuro da Internet depende da qualidade do envolvimento das pessoas na apropriação e criação de alternativas, o que está a léguas de distância de usar o crediário para comprar a mais recente geringonça digital.

* Thais Barros é Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, pesquisadora da Cidade do Conhecimento e participa do projeto “TIC – Educação”  na Pesquisa Qualitativa em São Paulo, sob a coordenação de Gilson Schwartz (CTR-ECA-USP).