moinhos2009

Rodam os moinhos pela ação do vento ou da nossa imaginação?

E as redes, são movidas por quais desejos, programas e projetos?

Moinho de redes, o grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento completa dez anos somando aprendizados em rede sobre a emergência de novos desejos, programas e projetos. Moinho ainda em construção, afetado ora pela falta de vento, ora pelo ânimo da imaginação.

O relançamento do boletim Redemoinhos coincide com a realização na ECA-USP da SOCINE, evento maior da pesquisa e da reflexão sobre o audiovisual em nosso país. Marca, muito especialmente, a conclusão de um processo complexo e lento de transição da “Cidade” entre o seu estatuto de atividade de Professor Visitante para um grupo de pesquisa que se articula em redes interdisciplinares e transdisciplinares a partir do Curso Superior do Audiovisual. A tradução desse processo nas ofertas de programas pela “Cidade do Conhecimento” culmina com a criação e abertura de inscrições do programa “Gestão de Mídias Audiovisuais para o Desenvolvimento Local”, o GeMA, associado ao consórcio PRO-IDEAL – Promoting an ICT Dialogue between Europe and América Latina (www.pro-ideal.eu). Dez anos após sua criação, a Cidade do Conhecimento torna-se um “hub” para cooperação científica e tecnológica com a União Européia no campo das tecnologias de informação e comunicação.

São 300 vagas para empreendedores, lideranças e artistas cujo acesso aos meios de informação, comunicação e conhecimento é insuportavelmente assimétrico, desigual e desbussolado. A partir do envolvimento com o GeMA, receberão uma certificação da USP (Pró-Reitoria de Cultura e Extensão) e da União Européia (tornando-se “Project Angels“).

Mais que a tecnologia, há uma fundamental condição para que vento e imaginação sejam convergentes na realização. Trata-se de correr atrás do nosso atraso na formação de pessoas habilitadas a articular localmente, a partir de projetos criativos, a narrativa audiovisual como base do desenvolvimento sustentável.

Nessa economia do desenvolvimento local por meios e processos audiovisuais, as competências de gestão, produção e distribuição tornaram-se gargalos estruturais ao processo de consolidação e ampliação dos mercados e da profissionalização no segmento do audiovisual brasileiro. Carência que se acentua, em favor de desigualdades de acesso, riqueza e conhecimento ainda mais gritantes, com a predominância da cultura digital.

Vamos de interface em interface, ao vivo no Twitter, “blogando” ou baixando material do YouTube, ampliando o rastro indecente de um sistema de cultura, ciência, tecnologia e inovação que ainda não dá conta do desafio da emancipação digital, ou seja, da conversão de nossos avanços técnicos e econômicos numa narrativa nacional, popular e crítica.

A formação de competências e a criação de espaços públicos voltados à promoção dessa convergência trialética entre tecnologia, economia e cultura foi a vocação da “Cidade do Conhecimento” desde sua criação no Instituto de Estudos Avançados da USP, há 10 anos.

Integrada a renovados e inovadores cursos de graduação e pós-graduação em meios e processos audiovisuais, a Cidade do Conhecimento concentra o foco e propõe como enquadramento para a “inclusão digital” a formação ampla de empreendedores e gestores em mercados locais de mídias audiovisuais. A alfabetização nessa fronteira da inovação contemporânea é condição para a inserção do Brasil na nova ordem mundial de compartilhamento da propriedade intelectual.

Nem moinhos de vento, nem redes sem projeto: a Cidade do Conhecimento da USP se abre aos que estão agora, em nossas filas, vilas e favelas, contando a sua própria história.