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O que há de errado com o método pelo qual as empresas fazem sua contabilidade há mais de 500 anos? Praticamente tudo, diz Baruch Lev, que propôs um novo método para determinar o valor dos ativos intangíveis que são o núcleo da nova economia.

Contabilidade se refere a exatidão. Contabilidade se refere a números sólidos. Contabilidade se refere a responsabilidade. A contabilidade é uma ferramenta tradicional para a tomada de decisões concretas sobre dólares e cents, sobre lucros e perdas. A contabilidade é o país dos detalhistas, dos trituradores de números – homens e mulheres com viseiras verdes e calculadoras.

A contabilidade, diz Baruch Lev, Professor de Contabilidade e Finanças na Escola de Negócios Leonard N. Stern da Universidade de Nova York, é crescentemente irrelevante. Por este motivo é crescentemente essencial e do interesse de todos nós. O problema, diz Lev, é que os sistemas de contabilidade e relatórios financeiros atualmente em uso têm mais de 500 anos de idade. Estes sistemas não são apenas parte da velha economia, eles são parte de uma economia muito, muito antiga. Luca Pacioli, um matemático italiano que viveu em Veneza nos anos 1400 desenvolveu o sistema de contabilidade por partidas dobradas para oferecer as negociantes um método simples de acompanhar suas transações – e, ainda mais importante, para racionalizar a maneira como faziam negócios. “Se você não puder ser um bom contador,” escreveu Pacioli, “você irá tatear como um cego e pode encontrar grandes prejuízos.”

Atualmente, argumenta Lev, ser um bom contador não garante uma boa visão. As antigas lentes não podem captar a nova economia, na qual o valor é criado por ativos intangíveis: idéias, marcas, métodos de trabalho e franquias.

Esta dicotomia, diz Lev, afeta mais do que apenas os analistas financeiros e os diretores financeiros das empresas: Os empregados não sabem como avaliar precisamente a sua contribuição. Os gerentes não têm números confiáveis para consultar quando decidindo se devem suportar um projeto ou quando da avaliação do desempenho dele. As empresas baseadas em conhecimento estão superavaliadas no mercado acionário? As empresas estão pagando demais pela aquisição de ativos baseados no conhecimento? Estas questões, diz Lev, e outras mais, não podem ser respondidas adequadamente com os métodos atuais de contabilidade e de emissão de relatórios financeiros. Em outras palavras, a contabilidade não mais fornece responsabilidade.

Lev, que também é diretor do Instituo Vincent C. Ross para Pesquisas Contábeis e do Projeto para Pesquisa de Intangíveis, se tornou o mais articulado, cuidadoso e sincero crítico da contabilidade tradicional e o mais criativo dos advogados de uma nova abordagem para a contabilidade, baseada no conhecimento. Ele foi o pioneiro no desenvolvimento do “Knowledge Capital Scoreboard”, que tenta atribuir números concretos aos ativos intangíveis.

Para descobrir o que há de errado com a contabilidade tradicional, o que é necessário para corrigi-la e por que isso importa a todos nós independentemente de nosso trabalho ou setor, a Fast Company entrevistou Lev em seu escritório na cidade de Nova York.

Por que você está propondo que os princípios contábeis e financeiros sejam repensados?

Nas últimas décadas têm ocorrido um dramático deslocamento; uma transformação, naquilo que os economistas chamam de fatores de produção das empresas – os principais ativos que criam valor e crescimento. Os ativos intangíveis estão rapidamente substituindo os ativos físicos. Ao mesmo tempo tem havido uma completa estagnação de nossos sistemas de mensuração e demonstração. Não estou falando apenas sobre demonstrativos financeiros e investimentos na Internet, mas também sobre medidas internas – contabilidade e relatórios dentro das companhias. Todos estes sistemas têm mais de 500 anos.

Portanto esta é a situação: Estamos usando um sistema com 500 anos de idade para tomar decisões em um ambiente de negócios complexo, no qual os ativos essenciais para a criação de valor mudaram fundamentalmente.

Quais são as evidências desta transformação?

Examine o índice Standard & Poor´s 500, das maiores companhias dos Estados Unidos, onde observamos que muitas não estão nos setores de alta tecnologia. A relação preço / valor patrimonial destas empresas – isto é, a relação entre seu valor de mercado e o valor líquido de seus ativos (o número que aparece no balanço) – é atualmente maior do que seis. O significado deste dado é que os números do balanço – medidos pela contabilidade tradicional – representam apenas de 10 a 15% do valor dessas companhias. Mesmo que o preço das ações esteja inflacionado, mesmo que você corte 50% do valor de mercado, ainda estará falando de uma grande diferença entre o valor percebido por aqueles que pagam diariamente por ele e o valor pelo qual as companhias o contabilizam.

Outro exemplo: John Kendrick, um economista bastante conhecido que estudou os principais fatores de crescimento econômico, reporta que houve um crescimento geral nos ativos intangíveis que contribuem para o crescimento econômico dos EUA desde o início do século: em 1929 a proporção entre os ativos intangíveis e os tangíveis era de 30% para 70%. Em 1990 esta mesma proporção era de 63% para 37%.

Então os ativos intangíveis estão se tornando mais importantes. Mas o que são os ativos intangíveis?

É extremamente difícil encontrar uma definição ampla para ativos intangíveis. Eu tentei agrupá-los em quatro categorias. Primeiro estão os ativos associados à inovação do produto, como aqueles que decorrem dos esforços de pesquisa e desenvolvimento. Segundo, os ativos associados com a marca da companhia, que permite que esta venda seus produtos ou serviços por um preço mais alto do que seus concorrentes. Terceiro, os ativos estruturais – não as inovações ofuscantes ou as novas invenções, mas maneiras melhores e mais inteligentes de fazer negócios que distinguem a companhia de seus competidores. E em quarto lugar os monopólios: companhias que desfrutam de um privilégio, ou incorreram em custos de instalação substanciais que eventuais competidores terão de acompanhar, ou têm uma barreira de entrada que podem usar a seu favor.

O que existe a respeito dos ativos intangíveis que cria valor – valor que é mais significativo do que o dos ativos tangíveis?

A melhor maneira para responder a esta questão é com outro exemplo – e aqui estou me afastando intencionalmente das empresas de Internet e das companhias de alta tecnologia que as pessoas costumam apontar, como a Cisco Systems e a Amazon.com. Vamos examinar a American Airlines ou, mais precisamente, sua controladora, a AMR Corp.

Em outubro de 1996 a AMR Corp. vendeu ao público 18% de seu sistema de reservas por computador, chamado SABRE. Ela ainda detém os restantes 82%. Esta transação fornece uma forma magnífica para avaliar ativos tangíveis e intangíveis. Quando eu verifiquei recentemente o mercado, o SABRE representava 50% do valor da AMR. Isto é fascinante. Você tem uma das maiores companhias aéreas do mundo, com uma frota de cerca de 700 jatos, quase 100.000 funcionários e direitos de operação exclusivos e valiosos nos aeroportos mais movimentados do mundo. Do outro lado você tem um sistema de reservas por computador. É um bom sistema, utilizado por uma infinidade de pessoas, mas apesar de tudo é apenas um sistema de computador. E este sistema vale tanto quanto toda a linha aérea. Agora, o que torna este ativo – o sistema de computador – tão valioso?

Uma das grandes diferenças é que quando você trata com ativos tangíveis, sua habilidade para alavancá-los – para obter deles negócios ou valor adicionais – é limitada. Você não pode utilizar o mesmo avião em cinco rotas diferentes ao mesmo tempo. Você não pode colocar a mesma tripulação em cinco rotas diferentes ao mesmo tempo. E o mesmo acontece com o investimento financeiro que você fez na aeronave.

Mas não existe limitação para a quantidade de pessoas que podem usar simultaneamente o SABRE: ele funciona tão bem com 1 milhão quanto com 5 milhões de pessoas. A única limitação para a capacidade de alavancar um ativo de conhecimento é o tamanho do mercado.

Os economistas chamam os ativos físicos de ” ativos rivais” – significando que os usuários rivalizam pelo seu uso. Com uma aeronave, você deve decidir qual a rota em que irá empregá-la. Mas ativos de conhecimento não são rivais. A escolha não é necessária. Você pode utilizá-los em mais de um lugar ao mesmo tempo. Com efeito, na maioria dos ativos de conhecimentos, em quanto mais lugares você aplicá-los maior será o retorno. Com a maioria dos ativos de conhecimento você tem o que os economistas chamam de “economias crescentes de escala”. Esta é a chave dos ativos intangíveis: quanto maior a rede de usuários, maior o benefício de todos.

Então esta é a forma pela qual os ativos intangíveis podem criar valor extraordinário. Mas existe um lado negativo nos ativos de conhecimento?

Como meu antigo professor e colega Milton Friedman costumava dizer, “Não existe almoço de graça”. Os ativos de conhecimento são muito caros para adquirir e para desenvolver. E são extremamente difíceis de administrar.

Examine os preços extremamente elevados que as empresas de tecnologia estão pagando pela aquisição de empresas menores quando estão procurando por ativos de conhecimento que possam alavancar. Em primeiro de novembro de 1999 a Cisco anunciou ter adquirido a Cerent Corp por US$6,9 bilhões. Nos primeiros seis meses de 1999 as vendas da Cerent tinham totalizado por volta de US$10 milhões. Isto é o que pode custar a aquisição de um ativo de conhecimento. Ou examine o alto custo de desenvolver um ativo de conhecimento: No mundo das indústrias farmacêuticas o custo de desenvolvimento de um novo medicamento é próximo de US$500 milhões. Um último exemplo é a América Online, que gastou perto de US$1,5 bilhões na conquista de clientes quando estava criando sua operação. Isto é o que pode custar a criação de uma grande barreira de entrada.

Existe um outro lado negativo nos ativos de conhecimento: os direitos de propriedade são confusos. No que se refere a ativos tangíveis, como uma aeronave, a American Airlines não tem muito com o que se preocupar. Ninguém irá roubar uma aeronave. Mas, definitivamente, a American Airlines deve se preocupar com a possibilidade de que alguém roube seu software. A proliferação de milhares e milhares de custosos processos por violação de patentes atesta a dificuldade para definir e manter os direitos de propriedade quando se está tratando com o conhecimento.

E ainda que os benefícios advindos dos ativos de conhecimento possam ser enormes, eles são muito mais incertos do que os ativos tangíveis. Ao investir em um ativo tangível, como um edifício de escritórios, sempre se obtém algum tipo de retorno – mesmo durante uma recessão. E quando chega o momento da expansão o seu ativo realmente se paga. Mas quando se constrói um ativo de conhecimento é bastante possível que se termine sem nada.

Dada a natureza dos ativos de conhecimento, qual é o conflito entre esses novos ativos e as antigas leis da contabilidade?

Um dos problemas é que você termina com práticas contábeis que são virtualmente contrárias às práticas de negócios que estão tentando mensurar. Deixe-me dar um exemplo. Em 1994 e 1995 a América Online capitalizou alguns de seus custos para a captação de clientes – o que significa que ela considerou parte destes custos como ativos. Em outras palavras o que a América Online estava dizendo é que ao conquistar novos clientes estava criando um ativo exclusivo – um que ajudaria a empresa a se tornar ainda mais lucrativa no futuro. Os analistas financeiros chamaram isso de trapaça! Era um novo setor, a concorrência era feroz e os analistas julgaram que a AOL estava tentando manipular seus lucros. Finalmente, em outubro de 1996, a AOL desistiu e lançou totalmente à despesa seus US$385 milhões em custo para a conquista de clientes.

Atualmente a AOL tem um valor de mercado de cerca de US$140 bilhões. Compare-os com os US$385 milhões que ela tentou capitalizar e isso chega quase a ser cômico! E há apenas cinco ou seis anos os analistas financeiros estavam proclamando que a AOL era uma trapaça.

Ou tome como exemplo o que ocorreu quando a IBM adquiriu a Lotus em 1995. Por uma exigência contábil a IBM teve de estimar o justo valor de mercado dos ativos que estava adquirindo. A IBM estimou que a parcela em andamento dos investimentos da Lotus em P&D – a parcela para a qual ainda não existia um produto – valia US$1,84 bilhões. Isto representava 53% do preço total de US$3,5 bilhões. A IBM lançou tudo como despesa – porque essas são as regras contábeis: uma vez que você tenha estimado que algo está em processo de P&D, você deve lançá-lo à despesa. Como resultado, não restou nem um vestígio de ativos.

Este tipo de baixa descuidada de todos os investimentos em ativos de conhecimento significa que não existe responsabilidade – nem a capacidade para mensurar o desempenho de um investimento ou para aprender com ele. E o problema está se agravando: ao longo dos últimos 20 anos, na medida em que o valor real dos ativos intangíveis das empresas está se elevando, este mesmo valor, como representado nos demonstrativos financeiros, tem aparentemente se reduzido de forma consistente.

A que você atribui estas falhas na contabilidade?

A contabilidade é baseada no princípio da comparação. Para determinar seus lucros, você compara suas receitas com suas despesas. Isto é realmente simples – é o que um sistema contábil faz. E se a comparação for boa, você obtém um valor confiável para seus lucros.

E é aqui que reside o problema: com ativos de conhecimento existe um completo descasamento e o sistema se corrompe totalmente. Tomemos o exemplo da AOL. Durante seu período de tremendo crescimento a AOL lançou como despesa todo o seu custo de captação de clientes. Assim, neste período, a companhia estava declarando estes custos como grandes prejuízos. E então, uma vez que os clientes foram conquistados, a empresa obteve grandes receitas – que aumentaram seus lucros sem nenhum custo associado! Desta forma ambos os períodos têm seus demonstrativos financeiros inexatos. Empresas que estão em uma curva de rápido crescimento – por exemplo, empresas de Internet e de biotecnologia – estão provavelmente subestimando seus resultados. E companhias mais antigas, que já se estabilizaram, estão mais provavelmente superestimando seus lucros. O resultado é uma desconexão com o mercado, que se supõe deva refletir a realidade.

Existe outra dicotomia entre o mundo da contabilidade e o mundo dos ativos de conhecimento: a contabilidade registra as transações, mas a maior parte da criação ou destruição de valor precede qualquer transação. Examine as companhias telefônicas regionais. No final dos anos 1980 a desregulamentação começou a atingir os sistemas telefônicos regionais. O sistema antigo se baseava na garantia de uma taxa de retorno razoável para as telefônicas. As empresas tinham um monopólio assegurado e lucros garantidos. O novo sistema era mais aberto e competitivo.

Os investidores compreenderam imediatamente as implicações da mudança de um monopólio garantido para um sistema competitivo: maiores riscos, menores retornos. Mas o sistema contábil não refletiu qualquer alteração – porque a desregulamentação não era uma transação! Cinco ou seis anos após o início da desregulamentação as Baby Bells (NT – Empresas resultantes da cisão obrigatória da Bell Co. em empresas regionais) finalmente reconheceram que seus ativos eram muito menores do que anteriormente e reduziram seus ativos em US$27,6 bilhões. Mas nos cinco anos anteriores houve um quase que total desligamento entre o valor real da companhia, demonstrado pela contabilidade, e a percepção do mercado.

Cabe lembrar que este sistema foi inventado há centenas de anos. Luca Pacioli, o monge que o criou, era um gênio. Ele desenvolveu um sistema que ainda está em funcionamento após 500 anos. Mas o sistema de Pacioli é frágil. Afinal de contas ele depende de transações. Mas quando se está tratando com ativos de conhecimento, o valor é criado ou destruído sem que seja feita qualquer transação.

Quando um medicamento é aprovado em testes de laboratório é criado um grande valor – mas não existe nenhuma transação. Nada troca de mãos. Ninguém compra nada e ninguém vende nada. Quando um software é aprovado em um beta-teste, ele repentinamente se torna valioso – mas não houve transação. Ou pense a respeito de como o valor é destruído: Quando uma empresa grande e tradicional demora a perceber como entrar no mundo do comércio eletrônico uma grande parcela de valor está sendo destruída – mas não existe uma transação.

Se algo tão fundamental quanto a contabilidade e os relatórios financeiros não funcionam na nova economia, porque não existe um clamor maior por mudanças?

Existem duas grandes barreiras para a mudança. A primeira é uma dificuldade objetiva: os ativos de conhecimento são inerentemente incertos – ainda estamos lutando para encontrar uma definição adequada. E o problema dos direitos de propriedade intelectual, por exemplo, continua confuso. Não existe uma solução para esta questão – e cada nova solução apresenta novos problemas. Dada a grande dificuldade do assunto é mais fácil que as pessoas aguardem pelo surgimento de uma melhor solução.

A segunda barreira para a mudança é uma coalizão informal que se opõe a qualquer alteração no sistema atual. Os administradores adoram o sistema atual. Eles não necessitam colocar no balanço qualquer coisa que pode se tornar sem valor. Os contadores compartilham deste amor pelo sistema atual. Se não for necessário avaliar os ativos intangíveis, como os custos de captação de clientes da AOL, sua responsabilidade legal é diminuída. Vamos encarar isso: atribuir valor a algo cuja avaliação é intrinsecamente difícil e sustentar esta avaliação quando for aberto um processo judicial pode ser uma experiência bastante desagradável.

Os investidores institucionais e os analistas financeiros também estão muito satisfeitos com o sistema atual por pensarem que conseguiram penetrar nas redes e na informação exclusiva. Eles almoçam com a administração. Eles visitam as empresas. Ao fazerem isso eles julgam estar obtendo informações importantes. Em que tornar público tais informações atenderia a seus interesses? Existem, portanto, algumas forças surpreendentes contra mudanças.

Se todas estas pessoas são contra mudanças, então o sistema deve estar certo, correto? Qual é o problema?

O problema é que estão sendo feitos diversos erros. Por exemplo, eu acabo de analisar cerca de 1.500 companhias – todas com investimento significativo em P&D. Cerca de um quarto destas empresas são sistematicamente sub-avaliadas por seus investidores. E muitas delas são empresas de computadores, biotecnologia e empresas de software com P&D substancial mas lucros abaixo da média. Isto significa que o custo de capital destas empresas é extraordinariamente elevado – o que impede seu crescimento. A subavaliação sistemática destas empresas acarreta sérios custos econômicos e sociais às empresas, a seus acionistas e à economia. Desta forma, o problema não é acadêmico ou abstrato; ele tem sérias implicações nos negócios. E ainda que eu não disponha de dados para prová-lo, tenho a sensação de que muitas das decisões internas também são deficientes porque os administradores estão dependendo excessivamente das informações contábeis.

Quais as soluções que você propõe para solucionar este problema?

Penso que existem algumas soluções – nenhuma delas completa, mas todas úteis. Uma delas é aperfeiçoar o sistema contábil. Algumas pessoas desistiram completamente da contabilidade. Elas dizem que o sistema está morto e que é necessário algo inteiramente novo. Para mim isso seria um grande erro. Eu acredito que a contabilidade ainda é incrivelmente eficiente. Desta forma a solução não é abandonar o antigo sistema, mas aperfeiçoá-lo.

Eu não antecipo nenhuma grande descoberta mas pequenas correções no que já existe. Por exemplo: contas paralelas. Elas podem ser um grupo de contas relacionadas às contas regulares que irão fornecer mais informações acerca do valor real dos ativos. O governo dos EUA, por exemplo, lança como despesas os gastos com P&D da mesma maneira irresponsável que as companhias o fazem. Mas o governo também estabeleceu um sistema de contas paralelas nas quais ele capitaliza a P&D. Não é uma grande revolução, mas fornece uma fonte para comparação.

E qual é sua proposta mais revolucionária?

Outra das soluções requer sair do sistema existente. Eu desenvolvi um sistema para mensurar os ativos de conhecimento, os ganhos intelectuais e os ganhos de conhecimento. É um processamento que se inicia com o que batizei de “lucros normalizados” – uma medida que é baseada nos lucros passados e futuros. Quando se está tratando com a contabilização do conhecimento, não é possível fazê-lo sem considerar o potencial para ganhos futuros criados pelo conhecimento. Com efeito, esta é uma das coisas fundamentalmente erradas com todas as outras formas de que dispomos para contabilizar os lucros, inclusive os aperfeiçoamentos como o EVA [Economic Value Added – Valor Econômico Adicionado]: Elas estão baseadas apenas em dados históricos. Elas estão contabilizando o passado.

Minha abordagem olha para o passado. Mas ela também olha para o consenso das projeções dos analistas. Com base nestas projeções eu crio uma média que chamo de lucros normalizados médios. A partir destes lucros normalizados eu subtraio o retorno sobre os ativos físicos e financeiros, com base na teoria de que estes ativos são substituíveis. A Merck & Co., por exemplo, tem diversas fábricas e laboratórios. O equipamento não é exclusivo. O que é exclusivo são as pessoas, as patentes, o conhecimento que lá está sendo desenvolvido. Desta forma, quando subtraio dos lucros normalizados um retorno razoável sobre os ativos físicos e financeiros, defino o restante como lucros do conhecimento. Estes são os lucros criados pelos ativos de conhecimento.

Por exemplo, meus cálculos recentes mostram que a Microsoft tem ativos de conhecimento no valor de US$211 bilhões – com folga, maior do que o de qualquer companhia. A Intel tem ativos de conhecimento no valor de US$ 170 bilhões e a Merck ativos de conhecimento que valem US$110 bilhões. Agora compare estes dados com os ativos da DuPont. A DuPont tem mais funcionários do que estas três empresas combinadas. E ainda assim os ativos de conhecimento da DuPont totalizam apenas US$41 bilhões – não existe muita lucratividade extraordinária ali.

Examine outras companhias onde diferentes tipos de ativos de conhecimento fazem uma grande diferença: Eu calculei que a Phillip-Morris tem ativos de conhecimento no valor de US$160 bilhões, em sua maior parte devidos ao grande valor de suas marcas. A Coca-Cola também é uma grande marca e seus ativos de conhecimento valem US$60 bilhões. Eu identifiquei outro tipo de ativo de conhecimentos – capital estrutural. O capital estrutural é uma forma única de se fazer negócios. No caso da Dell Computer, a companhia não produz computadores melhores do que os de outras empresas, mas a forma como ela os comercializa é totalmente diferente. Este é o motivo de seu capital em conhecimento totalizar US$86 bilhões – maior do que o da Wal-Mart.

Esta é a minha primeira forma de avaliação. Eu a chamo de ascendente por ser uma medida global. Segundo os cálculos que efetuei, ela tem uma performance bem melhor do que as projeções de lucro ou o valor contábil.

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